terça-feira, 14 de junho de 2011

Uma quinta-feira qualquer.

Eles entraram num bar, numa quinta-feira qualquer, depois do trabalho. Ela de roupa social, meio cansada, meio de mau humor. Ele de calça jeans e camiseta, meio descansado, meio com sono. Ela recém saída do escritório, ele acabado de terminar o relatório em casa. Ela pensando no que ia pedir para comer, ele pensando na estagiária gostosa que o amigo contratou.


E ela viu, na outra ponta do balcão, o grande ex-amor da sua vida. A única pessoa sobre a qual ela nunca tinha contado para ele. A pessoa que foi embora e deixou tudo uma bagunça, que ela demorou muito tempo para conseguir arrumar.

O grande ex-amor da sua vida tomava uma Pepsi Light, e ela pensou “Tudo continua igual!” e quis sorrir. Mas não sorriu. Estava nervosa demais para isso. Com todo o nervosismo, não percebeu que olhava fixamente para a outra ponta do balcão. Foi só quando a lata de Pepsi levantou e saiu do balcão, que ela percebeu que o grande ex-amor da sua vida estava indo em direção a eles. 

Quando estavam frente a frente, ela conseguiu dar um sorriso. O grande ex-amor da sua vida sabia que aquele era um sorriso nervoso. Ela já tinha sorrido tantas vezes assim quando estava em sua companhia. Não havia pessoa no mundo que conhecia tanto cada pedaço dela. Que sabia interpretar e decodificar tão bem cada sorriso tímido, cada lágrima, cada olhar e cada franzida de testa. E ela sabia disso. Sabia que não conseguiria esconder o nervosismo, a ansiedade, a surpresa e a excitação. Tentando disfarçar tudo isso, ela apresentou o grande ex-amor da sua vida para ele.


 - Amor, essa é a Marina. 

Eles se cumprimentaram como se Marina fosse a responsável pelo departamento financeiro na empresa dela, e não o grande ex-amor da sua vida. Marina deu um sorriso, desejou a eles um bom jantar e foi embora, caminhando devagar e dando uma última olhadinha para trás, com aquele sorriso que tirava o chão dela. 

 - Bonita ela, né?, ele disse.

Ela já não estava mais pensando no que ia pedir para comer. Pensava em frases, gostos e cheiros, texturas e palavras, sorrisos e sensações. Teve que segurar o choro e responder “É. Bonita”. Pediu um caldinho de feijão e um chopp. E quis ir embora logo, afinal de contas, ela estava meio cansada, meio de mau humor. 

Naquela noite, ela não conseguiu dormir. Talvez porque, na verdade, ela não tinha conseguido arrumar toda a bagunça que o grande ex-amor da sua vida tinha deixado. Ainda continuava tudo lá, amontoado, só escondido pela poeira. Escondido até aquela quinta-feira qualquer.

Um comentário:

  1. Marinas, carolinas, fernandas, elas tem vários nomes e um mesmo impacto sobre nós...aquele amor louco, tórrido e mal resolvido...suspiros são a melhor forma de defini-las!

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