quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Azul é a cor mais quente: vi, mas preferia não ter visto.


Quando começou o burburinho a respeito do filme “Azul é a cor mais quente”, logo pensei que se tratava de um novo “E o Vento Levou” versão lésbica. Porque, pelo tanto que comentaram, tinha que ser um filme muito do foda. Que baita decepção! Resolvi escrever aqui no blog a crítica, porque toda amiga que tenta fazer isso no Facebook é apedrejada pelas outras que amaram o filme.

Sem querer entrar nos méritos artísticos da produção, que por sinal tem uma fotografia, iluminação e direção bacana, a história é o mais puro clichê do clichê. Eu, até o momento, não entendi toda a badalação da sapataria sobre esse filme.  Se for só pela longa cena de sexo, já assisti algumas parecidas nos filmes da Emanuelle, na época de Cine Privê na Band.

Mas vamos a cornetagem!

Primeiro, pra que fazer um filme de 3 horas de duração, meu Deus? O filme já é francês, cujo idioma tem uma sonoridade chatíssima, o que fez a minha orelha sangrar só de ouvir os diálogos filosóficos entre as protagonistas, como o de Sartre, por exemplo. Por falar em Sartre, muito me espanta na França saber que aos 15 anos elas já são capazes de fazer debates calorosos a respeito.

Outra coisa que me incomodou demais foi a falta de conhecimento do mundo lésbico, e até mesmo feminino, por parte de quem escreveu o roteiro. Como na cena do bullying na porta do colégio, quando as amiguinhas da francesinha confusa começam a apavorar porque ela é lésbica. Gente, desde quando mulher fala mal da outra na cara? No mundo real, a colega filha da puta falaria mal da menina para uma amiga, que contaria para uma segunda amiga e essa para uma terceira, e depois de rodar o colégio inteiro a informação, uma amiga falsa chegaria na menina e diria: olha, sem querer passar fofoca adiante, mas tão falando que você é sapatão.

Segundo fato não realista: elas terminam o namoro uma vez só. Isso deve acontecer na França, mas no Brasil as lésbicas terminam o namoro e reatam pelo menos 15 vezes antes de romperem de verdade. Não me venham dizer que foi por conta de uma traição e que isso é pesado. Já vi casais que saíram na mão, uma quebrou o carro da outra, xingaram a mãe uma da outra e no dia seguinte estavam almoçando juntinhas em algum bar fuleira na Vila Madalena.

Sobre a história em si, quantos filmes já mostraram esse mesmo ponto de vista? A hétero que conheceu uma sapata e se apaixonou e depois a abandonou/ traiu/ se matou/ fugiu/ foi fazer mercado, etc? Isso é mesmice pura. Posso listar vários filmes com esse mesmo enredo, mas to com preguiça. Quando vão fazer uma história de lésbicas mulheres adultas com algum conflito realmente diferente da dúvida sexual? Retratar a mulher lésbica se resume a isso apenas? Daqui a pouco vão criar uma versão lésbica de Hamlet só para reforçar a frase “Ser ou não ser, eis a questão” durante 3 horas seguidas. Bom, pelo menos seria mais original.
 
Fico impressionada como o cinema tem MEDO de mostrar mulheres que gostam de mulheres de uma forma NORMAL, então sempre preferem abordar o tema através de personagens adolescentes, assassinas, artistas excêntricas, ou mulheres perturbadas psicologicamente. Nunca é uma advogada, bancária, empresária.

Aliás, isso me traz à mente outro ponto. Porque tem que ser sempre trágico? Lembro-me de outro filme famoso, “Assunto de Meninas”, que uma se mata no final. Tudo muito dramático, como se entre duas mulheres a relação sempre tem que ser perturbadora e levar ao mesmo fim: à desgraça! Melhor exemplo disso, apesar de ser um PUTA filme: “Meninos não Choram”. O único que eu recordo ter um final bonitinho é o inglês “Imagine Eu e Você”.  Ainda assim, o filme retrata o velho clichê da hétero que se apaixona por uma sapa e blá blá blá.

O ponto onde eu quero chegar é: as relações héteros não são todas maravilhosas, mas existem filmes da Sandra Bullock e Julia Roberts que nos fazem acreditar nisso. Então porque não podem existir filmes lésbicos bacanas e com um final feliz e uma história interessante?


Azul é a Cor Mais Quente é longo, chato, mais do mesmo e infantil. Preferia ter visto novamente a trilogia completa do filme O Senhor dos Anéis. 

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