terça-feira, 10 de maio de 2011

PIRACEMA



A Piracema consiste no período em que os peixinhos nadam contra a correnteza para fazer a desova e assim se reproduzirem.  E o que a Piracema tem a ver com o mundo lesbo? Assim como os peixinhos, a marca número um das lésbicas é o seu ritual de acasalamento, que também consiste em fazer um movimento para alcançar o seu objetivo: encontrar o seu grande amor! (ou às vezes só conseguir uma boa trepada mesmo) E assim como os peixinhos...poucos sobrevivem a este ritual idiota.

Mas deixemos a Piracema de lado e vamos estudar, como se estivéssemos em um capítulo do National Geographic, o ritual do acasalamento das sapas.

1ª semana

Após se conhecerem bêbadas na buatchy, ou através de uma amiga da amiga da amiga, a primeira noite de carícias entre os dois seres desta espécie é muito intensa (talvez devido ao excesso de álcool, ou talvez pelos longos períodos que passam sem acasalar). Apesar de nunca terem se visto, a pegação pública parece não incomodá-las nos quesitos “vergonha alheia”, “eu não sei se você se depila” e “eu nunca te vi, mas estou com a mão dentro da sua calça”.

O segundo dia, porém, é o mais importante de todos! É o dia em que ocorre o questionamento fundamental para a garantia do acasalamento: SERÁ QUE ELA VAI LIGAR? ou SERÁ QUE EU DEVO LIGAR? Nessa etapa são gastas muitas horas de reflexão para relembrar todas (sério, TODAS) as frases, junto a um comitê de amigas, que foram ditas pela parceira da noite anterior que possam indicar um grau mínimo de interesse ou que possam ser usadas como desculpas esfarrapadas caso uma delas seja humilhada no dia seguinte após o contato.

Se essa segunda etapa for concluída avance um parágrafo, se não for, recomece esse post até conseguir ultrapassá-la.

A partir do terceiro dia até o sétimo podemos fazer um resumão, pois são quase todos iguais. As duas começam a se bombardear com dizeres românticos, letras de músicas e afins por meio de SMS/ e-mails/ telefonemas/ cartões virtuais/ MSN/ Skype/ Twitter/ Facebook/ Orkut.

É nesses próximos quatro dias que os dois elementos, ou pelo menos um deles, começa a ter a certeza de que vale começar a nadar contra a corrente e que todo esforço é feito por uma boa causa. Assim como na Piracema (hahahahaha).

2ª semana

Aqui as coisas começam a avançar bem. Geralmente, é a semana pós-primeira trepada e final de semana inteiro que passam juntas. É quando a relação começa a ficar sólida. Sim, assim como os cães em relação aos humanos, o tempo dos relacionamentos lesbos tem certo adiantamento em relação aos héteros. Cada semana de relacionamento lésbico corresponde a um ano de relacionamento hétero.

Neste período são trocadas algumas confidências como: informações sobre a família, trabalho e formação acadêmica. Os apelidinhos carinhosos e as piadas internas são estabelecidos. Além disso, as ligações e envios de mensagens se normalizam e caem para uma média de 325 contatos diários.

3ª semana

Na terceira semana, as coisas estão bem mais sólidas. É nesse período que ocorre a oficialização do namoro. As duas partes trocam seu status em todas as redes sociais de ‘solteira’ para ‘um relacionamento sério’. Aí vem a primeira briga.

Geralmente os motivos são muito sérios. Como nas duas primeiras semanas de relacionamento as duas partes viveram intensamente tudo o que um casal hétero vive nos dois primeiros anos de relação, não sobra muita coisa para se fazer a não ser apimentar a convivência com um pouco de ciúmes. Mas, o que era apenas para ser um “charminho” acaba se tornando num rolo filha da puta. Nesta fase, todas as coisas mais absurdas acontecem, é tipo um fenômeno da natureza. Assim como a Piracema (hahahahahahhahahahahha). Os exemplos mais comuns se dividem nas seguintes categorias:

-*  A EX – Toda sapa que se preze tem uma ex ou um caso mal resolvido para infernizar o atual. Esse tópico pode gerar inúmeras variações. A ex dela te perturba, a sua ex perturba você, ela não esquece a ex, você não esquece a sua ex, você não esquece a ex dela, e por ai vai. Esse tópico costuma a ter muito sangue, ou costumava, agora que a Lei Maria da Penha virou GLS.

·   Balada x filme em casa – Aqui não tem muito segredo. Um elemento gosta naturalmente de ir pra balada, o outro só freqüentava as baladas para arrumar alguém. Normalmente, em uma relação hétero, isso poderia ser resolvido com o EQUILÍBRIO das duas atividades, mas essa palavra foi banida do mundo GLS em 1702, por uma lésbica católica.

·    A amiga solteira – Um dos casos mais graves. Para toda sapatão existe uma amiga, que por inúmeros motivos, pode não aceitar de bom grado o relacionamento e ela não faz a menor questão de esconder isso. Se nós estivéssemos assistindo a Piracema (hahahahahhahahaha), é como se um salmão estivesse vendo o amiguinho peixe alguns quilômetros a sua frente. E nenhum salmão gosta de ver o outro em vantagem. Ah, não! Desculpe, isso é o ser humano e não o peixe! A amiga solteira é quem fará um dossiê completinho sobre você, digno de um membro da CIA. Dependendo da competência da amiga, até as suas notas da aula de educação artística do pré-primário estarão sendo avaliadas. É a pessoa que vai contar uma história engraçadíssima sobre a viagem inesquecível para um lugar maravilhoso com a ex da pobre coitada, que está quase tendo um AVC e não consegue fazer a amiga calar a boca.

·   Bissexualidade, ou Ex-hétero – Esse é um assunto pouco comentado nas rodinhas sociais, pois se trata de um tabu. Tenho a impressão que quem mais sofre com o preconceito são os bissexuais, porque além do preconceito social, o pobre ser também sofre preconceito dentro do mundo GLS. Vamos ao exemplo. Uma descobre que a outra é bi, ou então, que ela passou a maior parte da vida sendo hétero. Instala-se o caos. Se pudéssemos definir uma música para ilustrar esse relacionamento, ela seria Carmina Burana, de Carl Orff. A sapa vai atormentar a vida da outra, pois obviamente ela vai ter vontade de dar para tudo e todos que passarem na sua frente. Homens, mulheres, animais e talheres. Um simples ‘obrigada’ um pouco mais simpático para o balconista da sorveteria pode resultar numa D.R. de quatro horas dentro do carro (sapatão adora conversar dentro do carro), correndo o risco de ser acusada e julgada, já que ela é um ser atormentado, que não sabe o que quer. Esse processo acontece praticamente todas as vezes que o casal resolve sair ao ar livre.

Todos esses motivos listados acima podem gerar a primeira briga, que depois disso vai classificar se o relacionamento é apropriado ou não. Geralmente, nas tribos héteros, as brigas são vistas como uma forma de modelar a relação, mas...ahh! maldita freira de 1702!

A primeira briga é algo tão sério, que se torna um marco.

A partir desse momento, o casal já tem extrema intimidade e é hora de alterar o status nas redes sociais de “relacionamento sério” para “casada”. E é aí que começa a fase mais intrigante do relacionamento lesbo: 

 O casada - solteira - casada - solteira - namorando - solteira - casada
É extremamente fácil identificar quando um casal entrou nessa fase, se você tem uma, ou as duas partes em algum tipo de rede social. Assim você pode acompanhar a inconstância do relacionamento no período dessa terceira semana.


Elas terão brigas horrorosas (e públicas) por causa de coisas altamente relevantes, do tipo "você esqueceu de me ligar ontem a noite", ou "você falou comigo de maneira ríspida", ou "você roubou no truco". E essa briga resultará no término do relacionamento. Por volta de vinte minutos.


Passados esses vinte minutos, as duas voltam a se amar loucamente, intensamente e insanamente. Até a briga do dia seguinte, quando voltarão a terminar, dessa vez "DEFINITIVAMENTE, PORQUE NÃO DÁ MAIS!". Até voltarem mais uma vez e terminarem de novo e voltarem. 


A parte boa dessa falta de vergonha da auto-exposição, é que isso se torna um ótimo entretenimento para se acompanhar durante os momentos de ócio.  

Finalmente, os portões do inferno foram abertos. E Carmina Burana irá tocar com muito mais freqüência com as:

***FRASES MAIS USADAS NESSE PERÍODO:

- Vamos sair para conversar;

- Você não era quem eu achava;


- Eu mereço mais do que isso;


- Eu não sei se a gente dá certo;

- Tudo aquilo que vivemos (em duas semanas) foi uma mentira;

- Às Vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas. O tempo passa e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos e as pessoas pequenas demais para torná-los reais!

- blá blá blá – Clarice Lispector

- blá blá blá – Caio Fernando Abreu

O processo pós-briga é quase igual ao que acontece na primeira semana. É só inverter. Ao invés de mensagens de amor, agora elas são suicidas e depressivas, assim como as letras de músicas. Nessa fase, Ana Carolina, Zélia Duncan, Isabela Taviani, Cássia Eller, Maria Gadú, Ivete Sangalo e todos os sertanejos detestáveis da face da terra estariam trilhardários se cobrassem um real pelos direitos autorais a cada vez que um casal lesbo briga.

Se essa terceira etapa for concluída avance um parágrafo, se não for, recomece o post até conseguir ultrapassá-la.

4ª semana

Circulando! Circulando! Não sobrou mais nada a partir daqui. Apenas a lembrança de mais um namoro lesbo relâmpago.


6 comentários:

  1. Muuuuuuuito bom, o texto me prendeu do inicio ao fim, com um tom ironico magnifico e simplicidade de entender e concordar com tudo.

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  2. Eu adorei, ri muito do início ao fim.
    abraços

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  3. Sempre muito bom o sentimento de que voce me conhece ou ja ouviu falar de algum, dos meus muitos, namoros relampagos....kkkkk
    GENIAL!!!

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  4. Quem nunca passou por nenhuma dessas situações que atire a primeira pedra!...rs

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  5. Morri! hahahahaha...Carmina Burana ainda roda no meu play...rs..

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  6. G-Juiz...esse texto deveria ser vendido como Guia Prático para Lésbicas iniciantes - Tudo o que vc precisa saber sobre a dinâmica Lesbo...
    faltou a parte da perseguição, dica para o proximo tema, as lésbicas que não entendem o não, eu não te quero mais!

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