Mundo Corporativo: God of War Lésbico

Se você não trabalha na night, não é sustentada pelos pais, ou não foi a última ganhadora da mega sena acumulada, parabéns! Você, assim como nós e bilhões de pessoas, faz parte do mundo corporativo! Ou seja, você trabalha todos os dias para ganhar o dinheirinho do mês para ir para a buatchy.

Até ai, nada diferente entre você e as bilhares de pessoas que trabalham se não fosse pelo fato de você ser uma lésbica. Porque além de você ter que enfrentar aquele trânsito filho da puta para chegar ao trabalho, agüentar pressão de chefe e cliente, ser criativa e pró-ativa, você ainda tem uma tarefa adicional que é suportar o convívio com outras pessoas que, diferente de você, fazem parte da chamada sociedade.

Resumindo, minha amiga, você tem que se esquivar todo santo dia de assuntos sobre casamento/ filhos/ marido/ maquiagem/ moda e a puta que me pariu. Escrevemos esse post sob uma forte revolta porque Deus, em sua mais bela piada arquitetada contra nós, nos colocou em um lugar para trabalhar onde a grande maioria dos funcionários é do sexo feminino casado + filhos.

Como nós aqui do blog adoramos listinhas e rankings (vocês verão muitos por aqui), nós fizemos uma relação dos assuntos mais irritantes que as nossas colegas (HT) de trabalho adoram conversar conosco (lésbicas desgraçadas):

- Maquiagem ou MAKE (elas adoram falar “make”) – Quando acordo na segunda-feira, eu mal tenho tempo para administrar o ódio por ter acordado, mais a ressaca da saidinha de domingo. Como eu seria capaz de fazer uma mega produção, do tipo show do U2, na minha cara?! Mas elas conseguem. Teve uma época que a mocinha que senta do meu lado desenvolveu uma obsessão em me ver maquiada. Ela vivia dando indiretinhas na frente de todo mundo do escritório sobre o fato de eu não me maquiar. Um belo dia, ela disse super-orgulhosa: Minha mãe me obrigou a passar maquiagem desde cedo todos os dias, por isso hoje eu sou assim. Eu parei tudo o que estava fazendo e revidei: Minha mãe sempre me ensinou a LER desde cedo, por isso hoje eu sou assim! Depois desse dia ela nunca mais tentou me maquiar e eu levei uma advertência da chefe por bullying. 

Maior mina de diamante do mundo,
situado em Мирный, Sibéria.

- Parto normal X cesariana – Sério, minha gente, alguém, por favor, pode me explicar onde e por que essas mulheres enxergam beleza na forma que o bebê vai sair do útero??? Se dependesse das mulheres HT elas criariam uma ONU só para discutir isso. Desculpa, mas para mim, elas estão discutindo entre ter um bebê saindo pela vagina arregaçando tudo e deixando um buraco maior que aquele da Sibéria, contra um médico cortando a sua barriga e tirando uma criança como quem abre um Kinder Ovo para ver a surpresinha! Elas relatam dores, sensações, cores e texturas que ninguém precisa saber.

- Casamento - Depois de ter ouvido uma colega de trabalho dizer que cresceu assistindo aos filmes da Disney e por isso ela faz questão de casar, eu não tenho mais nada a dizer sobre isso. Descobri que as mulheres querem casar, simplesmente por não saberem explicar o porquê querem isso.  

- Filhos – Ahhh, o seu filho falou a primeira palavrinha? Comeu toda a papinha, foi? Tem um sapatinho da Hello Kitty? Que bonitinho! Isso deve ser legal para ele, desgraçada!! Legal para mim é pegar a menina mais gostosa da balada ou ver o meu time ser campeão do mundo! Eu não quero ver vídeo dele/a dançando de fraldas, eu não quero saber a palavra que ele/a disse errado e todos ao redor rirem como idiotas, eu simplesmente não me interesso pelo processo de desenvolvimento da sua cria. Sem mais.

E esse tópico nos leva a:

- Rodinha de Bebê - Sempre tem uma filha da puta que resolve procriar e aparecer no escritório no meio da licença maternidade, para mostrar o bebê para os colegas. Cem por cento das vezes, a cena que transcorre é a seguinte: TODAS as mulheres do ambiente levantam, emitindo um som gutural incompreensível, e fazem uma roda em volta da mãe, que sempre me lembra alguma cena do filme Madrugada dos Mortos, onde os zumbis encurralam algum idiota desavisado. Enquanto as aves de rapina estão em cima da criança, nós normalmente estamos sentadas exatamente no mesmo lugar olhando estática para o computador, tendo movido no máximo a cabeça, para ver o motivo de tanta comoção. E é então que os olhares de reprovação começam a se voltar para nós. Para elas, é incompreensível não querermos levantar, agir como uma idiota rodeando a mãe da criança, e disputar no tapa com as outras idiotas, para pegar o bebê no colo.

Segredinho: pequenas feições e olhos grandes ativam nossos sentimentos de proteção. Isso nos impede de comê-los.  É puramente fisiológico, pessoal!

Depoimentos

A.M.

Eu trabalhava com quatro mulheres, que têm todas as características relatadas acima. A mais nova com 40 anos e todas casadas, com filhos e assuntos altamente interessantes do tipo “O Thiago Lacerda beija com intensidade! Eu acho que não é beijo técnico, não”. Ou “Minha filha gosta do arroz por cima do feijão”.  Desde a primeira semana lá, eu percebi que teria que dispensar grande parte da minha energia para TENTAR não tirar um dia minha AR-15 debaixo da mesa e metralhar todas. E então os papos pioraram: “Ah, para mim, o pior é o bissexual. Esse é atormentado, né, gente?” Ou então “Homossexualismo, para mim, é doença ou safadeza!”, entre outras pérolas.

Depois de um ano trabalhando nesse ambiente agradável, resolvi assinar a minha carta de demissão. No último dia, como era de se esperar, fomos todas almoçar juntas. Durante o almoço, como eu já havia planejado, eu pedi um minuto de atenção e fiz questão de anunciar: “Meninas, tenho uma coisa para contar-lhes. Eu namoro há um ano e meio com uma mulher.” As reações foram as mais diversas e engraçadas possíveis. Uma ficou calada, com os olhos esbugalhados, me olhando. A outra ficou repetindo ininterruptamente “Sério? É sério? Sério? Sério? Sério?”.

O mais bacana foi fazer isso no meio do dia, lembrando que elas teriam que aguentar a minha presença por mais cinco horas, juntamente com aquele elefante branco que eu tinha trazido para a sala. Na hora de ir embora, eu ainda disse, carinhosamente: “Vamos ver se agora, vocês aprendem a tomar mais cuidado com o que dizem, pois nunca sabem quem pode estar do lado.” 

C.G

Eu trabalhava num escritório pequeno, e aqui onde eu moro todo mundo se conhece. Eu e meu chefe tínhamos vários amigos em comum e, como eu sabia que ele era extremamente preocupado com STATUS, morria de medo dele descobrir a meu respeito e me demitir. Quando arrumei outro emprego, fiquei na dúvida se mudava ou não, e pensei: é melhor contar logo, porque se ele se importar com isso a ponto de me demitir eu já to garantida. O chamei pra conversar em particular, falei que tinha outra proposta de emprego e que algo que contava muito era o fato de que no outro lugar a dona não se importava com a minha sexualidade. Falei que namorava uma mulher e que pretendia me casar com ela. Pelo fato de boatos ocorrerem com freqüência na cidade, me incomodaria se ele soubesse disso por outra pessoa.  Foi ai que ele respondeu que a MISSÃO dele como meu "IRMÃO" era tentar me salvar! Mas que fora isso não havia problema nenhum.

De qualquer forma, proposital ou não, ele me demitiu 2 vezes depois de ter feito uma ótima proposta para eu continuar lá na empresa e teve a CARA-DE-PAU de me dizer: Bom, quem sabe aquele outro escritório ainda precise de alguém!

Dicas para sobreviver no ambiente corporativo

Ao longo dos anos, adquirimos certa sabedoria em conviver em harmonia no mundo corporativo que será de grande utilidade compartilhar.

- Não minta, omita – A invés de trocar o nome da sua namorada por um masculino, não diga nada. Escritório é lugar para se trabalhar e não desabafar, você tem amigos para isso. Uma hora ou outra você vai se confundir. Em um dos lugares onde trabalhei, uma menina vivia falando do tal noivo. Um belo dia, eu encontrei essa menina na balada quase acasalando com outra no meio da pista. Imagina o quanto foi constrangedor para ela essa situação. 

- Não se envolva – Onde se ganha o pão não se come a carne. Não fique desejando a sua coleguinha. Ela pode até dar bola para você, mas se descobrirem a culpa será sempre da sapatão que assediou a coleguinha hétero imaculada.

- Não tente mudar o imutável – Sempre existirão pessoas intolerantes quanto a nossa sexualidade. Se você for bater de frente toda vez que alguma pessoa do trabalho falar uma merda sobre o mundo GLS, você vai passar a vida inteira recebendo seguro desemprego. Antes de brigar por alguma coisa que foi falada, analise bem se vale a pena.

- Mantenha a sua privacidade – Apesar de ser assumida, eu escolho muito bem para quem eu revelo a minha sexualidade no trabalho. Tem pessoas que simplesmente farão da sua vida assunto de fofoca no horário de almoço, apenas para tirar de foco a vida entediante que levam. E se eu pego uma dessas falando, é sangue derramado na certa!